Cefuria e Sindsaúde iniciam formação sindical em educação popular

Ação terá duração de sete meses, com o objetivo fortalecer o trabalho de base da entidade sindical. 

Roda

Em julho, cerca de 30 trabalhadores da saúde, de cinco regionais, participam da primeira etapa da formação, em Curitiba

Por Ednubia Ghisi

O cenário atual do Brasil é de uma avalanche de ameaças às conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras. Para além da retirada de direitos, interesses econômicos alinhados ao poder político avançam em medidas para a flexibilização e da precarização do trabalho.

No Paraná, os serviços públicos e os servidores vivem sob constante ataque do governo estadual, em conluio com a bancada de situação da Assembleia Legislativa. Atrasos em obras públicas, repressão à organização, aprofundamento das terceirizações, sobrecarga de trabalho, redução do quadro efetivo, compõem as características da gestão de Beto Richa (PSDB).

Por outro lado, não é de hoje que as ferramentas de organização dos trabalhadores são criminalizas e desqualificadas pela grande mídia comercial, pelo empresariado e por setores do próprio Estado. Além da tentativa de destruição simbólica, parte da classe política busca institucionalizar a criminalização dos movimentos sociais, populares e sindicais, com questionamento do direito de greve e repressão a manifestações.

Se os desafios para a atuação sindical são muitos, é neste momento que as entidades tornam-se ainda mais imprescindíveis. É o que garante Elaine Rodella, secretária de formação sindical do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Paraná – SindSaúde. “A força dos “de baixo”, dos trabalhadores, é o único freio para INIBIR o aprofundamento do fosso das políticas neoliberais em curso no Brasil”.

Para fortalecer a multiplicação do trabalho de base, o SindSaúde e o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo – Cefuria iniciaram projeto de formação sindical em educação popular. Ao longo de sete meses, a metodologia do educador e teórico pernambucano Paulo Freire vai orientar as atividades formativas do sindicato, por meio da assessoria do Centro de Formação.

A primeira etapa ocorreu no início de julho, com a contribuição de Antonio Fernando Gouvêa da Silva, professor universitário, doutor em Educação e pesquisador da pedagogia freireana. Cerca de 30 trabalhadores da saúde de cinco regionais participam do encontro, em Curitiba. A próxima etapa será em agosto.

Mãos

Diálogo para a transformação

Ana Inês Souza, coordenadora geral do Cefuria, acredita na metodologia freireana como caminho para a formação política de lideranças populares. O ponto de partida desta metodologia é olhar para a realidade dos locais de trabalho, como forma de identificar os limites que dificultam a organização e a superação dos problemas.

“Para estabelecer o diálogo real é preciso exercitar a escuta, um dos elementos centrais para um processo democrático. Este diálogo possibilita a produção de um conhecimento novo, modificando os sujeitos envolvidos, a fim de que, juntos, possam transformar a realidade”, garante a coordenadora, que é autora do livro Paulo Freire: vida e obra (Expressão Popular, 2001).

Essa perspectiva formativa, de acordo com Ana Inês Souza, pode favorecer a articulação dos servidores mais antigos com os recém-chegados, e ajudar na continuidade da resistência já construída pelo sindicato: “Este diálogo entre gerações de lutadores contribuirá para a compreensão da luta histórica pelo SUS, do simbolismo em torno da sua construção, e do papel do Sistema para a garantia da saúde pública, gratuita e de qualidade como direito básico e primordial da população”, afirma.

O objetivo da formação também é aprofundar a identidade da categoria como defensora da saúde pública. “A partir desta formação, queremos impulsionar a nossa organização, multiplicar a ação sindical, aprofundar o reconhecimento e apropriação dos trabalhadores com o sindicato, que é ferramenta legítima e orgânica da classe trabalhadora”, garante Elaine Rodella, integrante da diretoria do SindSaúde.

Monica Glinki, da direção estadual do sindicato,  ressalta a importância da iniciativa para alimentar a utopia e fomentar a emancipação: “Nossa realidade nos impõe, mais do que nunca, manter viva a  luta pelo sonho,  contra a ideologia fatalista neoliberal. Esse processo de formação quer consolidar a ruptura com a ideologia do individualismo, da competição”.

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“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, Paulo Freire. 

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