Manifestações artísticas marcam o Dia de Luta da População em Situação de Rua

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Cheia de música, arte, e alegria, a Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, esteve mais agitada na última quarta-feira (19). Não raro alguns dos transeuntes paravam para conversar com os presentes no evento. “Mas o que está acontecendo aqui?”, questionavam.

O Dia de Luta da População em Situação de Rua agitou o ambiente. Cerca de 250 pessoas participaram das atividades, que duraram 24h. A data marca o início das mobilizações que contribuíram para a articulação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR). O marco se dá em 19 de agosto de 2004, quando, no Centro de São Paulo, sete pessoas que dormiam na calçada foram assassinadas, naquele que ficou conhecido como o Massacre da Sé.

DSC_0034 - CópiaDesde junho de 2015, a data passa a integrar o Calendário oficial do estado. Promovida pelo MNPR de Curitiba, a comemoração propõe um dia de encontro da população em situação de rua, em um lugar público onde a sociedade veja de forma a acabar com o estereótipo que tem dessa população.

“As pessoas esquecem que essa rapaziada contribuiu e contribui muito com a nossa sociedade”, indica o coordenador municipal do MNPR, Fayçal Mohamed. Para ele, é preciso que o Massacre da Sé seja lembrado para que haja consciência social e fortalecimento da luta.

“A gente é invisível para uns; para outros é mal visto mesmo”, aponta Rosemir Ananias, que esteve no evento. Zumba, como é conhecido, acompanhou a caminhada do MNPR no Paraná, e já participou da atividade durante outros anos.

DSC_0051 - CópiaSara de Oliveira já esteve em situação de rua e veio prestigiar o evento. Ela conta achar interessante encontrar e conhecer novas pessoas de diferentes lugares e com histórias muito semelhantes ou muito distintas da sua. A jovem ressalta a importância da atividade. “É legal que a sociedade possa ver com outros olhos como nós somos: seres humanos”.

E a proposta do evento deu certo. A interação entre aqueles que passavam na praça e os que estavam na comemoração foi perceptível. Crianças, jovens e adultos aproveitaram para participar das atividades e trocar conversa com os que estavam no local.

Estudante de Ciências Sociais, Vanessa dos Santos veio acompanhar o Dia de Luta pela primeira vez. Ela define a experiência como transformadora. “A gente começa a compreender que as pessoas que estão em situação de rua possuem uma forma de produção simbólica do espaço, que é incompreendida por nós, que estamos apenas passando nas calçadas”, explica.

A Verdade da Rua

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Jogos de tabuleiro e de mesa, slackline, orientações jurídicas e atendimento médico foram algumas das atividades disponíveis no local. Montado no centro da praça, um pequeno palco também deu espaço para intervenções artísticas. Os participantes puderam cantar, dançar e tocar seus instrumentos, animando quem estava acompanhando as apresentações.

As atividades diversas foram proporcionadas pelos mais de 20 apoiadores do evento, entre eles o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo. Através do projeto Coopera Rua, o Cefuria ajudou a promover rodas de diálogos com os participantes. O projeto é realizado a partir de convênio firmado entre a instituição e o Mistério do Trabalho e Emprego, através da Secretaria Nacional de Economia Solidária.

O Cefuria ajudou a construir junto com os participantes a rádio poste ‘A verdade da Rua’. Depoimentos e músicas dominaram a programação. O rap produzido pelos jovens foi a grande atração do espaço. Criatividade, habilidade e talento marcaram as letras das canções.

Reflexões

As contradições da sociedade e a desigualdade de gênero foram apontadas durante roda de conversa realizada com mulheres, na tarde do dia 19. Por estarem em situação de rua, a violência física e psicológica é intensificada para as mulheres. As participantes destacaram que não são tratadas da mesma forma que os homens e que, na maioria dos casos, estão subordinadas a eles, como espécie de instrumento de poder. “Não adianta você ser mulher, e não poder ser, pela opressão que sofre”, avalia uma das participantes. Para combater essa lógica, foi destacada a necessidade de união das mulheres como forma de fortalecer a luta coletiva contra a discriminação.

DSC_0248 - CópiaPara ajudar a pensar as dificuldades sofridas pela população em situação de rua, assim como possibilidades e formas de superação, um cine debate foi realizado na noite do dia 19. O documentário ‘Conheço meu lugar – A Trajetória de Beto e outros Franciscos’ foi exibido para aqueles que participaram da vigília. O filme conta a história de Francisco Félix, que cresceu nos logradouros públicos.  As memórias e opiniões do artesão e militante do MNPR do Ceará são trazidas no material.

>>Assista o filme aqui.

Texto e imagens por Franciele Petry Schramm, Assessora de Comunicação do Cefuria

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