Marcha de 8 de março | Mulheres na rua contra os aumentos e retirada de direitos

IMG_0982

Por Ana Luiza Cordeiro
Supervisão: Ednubia Ghisi

O mês de março se inicia com timbres de luta. Dia 8 emerge memorando as constantes e diversas lutas das mulheres, que tem se acirrado no cenário de conservadorismo do Congresso brasileiro. Em períodos de crise, as mulheres são as principais afetadas pelo desemprego e precarização do trabalho, em especial as mulheres negras.

Exemplo disso são os impactos sofridos principalmente por mulheres com a elevação de tarifas básicas como a de energia elétrica, que é tema da Marcha do 8 de Março de Curitiba. Atividades formativas serão realizadas por diversas organizações feministas, sindicais, populares, estudantis e sociais durante o mês todo, com destaque para a mobilização que acontecerá no dia 8 de março, em frente à sede da Companhia Paranaense de Energia (Copel).

Como uma dessas formações, um encontro foi realizado na última segunda-feira (21), no Cefuria, e reuniu representantes da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), do Movimento dos atingidos por Barragens (MAB) e de grupos próximos ao Centro de Formação, como integrantes de Padarias Comunitárias e Clubes de Troca.

IMG_0976A reunião se compôs de vozes femininas intensas e deu início à construção de uma série de encontros, oficinas e rodas de conversa relacionado às questões das mulheres, visibilizando os pontos que entrelaçam os movimentos presentes, e impactam a vida de mulheres em diversos contextos. Integrantes de padarias comunitárias, de clubes de troca, de associações de moradores e educadoras/es populares construíram uma agenda de encontros para ajudar a construir a emancipação feminina e a ascensão política da mulher, que já desempenha os papeis estruturais do sistema social, mas não usufrui do reconhecimento como parte fundamental da composição da sociedade.

Uma luta mista, protagonizada por mulheres

Integrante da MMM, Rosani do Rosário aponta que essa é uma luta de mulheres e homens, protagonizadas por elas. “Nós mantemos nossas famílias. Com o aumento de 130% na tarifa, na gestão do governador Beto Richa, há um impacto em nossas vidas”, indica.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% dos lares brasileiros é chefiado por mulheres. Apesar de números bastante significativos da participação da mulher na renda e economia, elas ainda ganham em média 30% menos do que os homens para os mesmos cargos e níveis hierárquicos. Mulheres ainda acumulam duplas ou triplas jornadas e são, muitas vezes, as únicas responsáveis pela criação de filhos e cuidados domésticos.

“Nos é negado discutir economia. Mas somos nós que fazemos a economia familiar e a do país todos os dias”, reforça Rosani.

IMG_0980O aumento de tarifas estabelece um sistema social desigual, entre consumidores e grandes empresas, e se reflete de modo bastante contundente no cotidiano da mulher. Ela, geralmente responsável pela manutenção da casa, é quem terá que ajustar orçamentos – o gasto com lazer e com compras básicas, por exemplo, serão reduzidos.

Comunicadora popular do Cefuria, Ednubia Ghisi lembrou que é preciso também questionar como os papéis sociais estão construídos. “Precisamos romper esses papéis que determinam que as mulheres são as responsáveis pelas atividades domésticas”, aponta.

A Marcha das Mulheres deste ano traz, junto com o debate do aumento da tarifa de energia elétrica, outros quatro pontos estruturais para a realização das reuniões de debates: a reforma da previdência – que propõe o aumento do tempo de serviço das mulheres para a aposentadoria; o fortalecimento da mulher negra e indígena; o empoderamento feminino; e o combate à violência e ao abuso contra mulheres e meninas.

Modelo energético desigual

Também, dia 14 de março, é marcado pela luta dos atingidos e atingidas por barragens. A proximidade das datas torna mais elucidativa a correlação dos movimentos.

A energia hidrelétrica corresponde a 70% da matriz energética brasileira. Ou seja, a produção de energia em território nacional é gerada através da utilização de água, o que significa uma matéria sem custo e reutilizável, gerando altos lucros para as empresas concessionárias. “Dentro do modelo de produção, não é o modelo de menor impacto que vence, é o que traz mais lucro. No Brasil, com a privatização, a energia deixou de ser um serviço público para se tornar mercadoria”, explica Robson Formica, do MAB. A privatização do setor elétrico ocorreu nos anos 1990, durante o governo FHC (PSDB), quando outros setores e empresas públicas estratégicas foram passadas de mão beijada para a iniciativa privada. 

Dentro desse modelo de produção capitalista, as empresas fecham os olhos para a sociedade. São 2 milhões de atingidos por barragens no Brasil, e 70% não obteve reparação de qualquer tipo, segundo a Comissão Mundial de Barragens.

 Em grande parte dos casos, as mulheres não detêm o título de suas propriedades, e não são reconhecidas como atingidas. Por isso, ficam submissas ao titular da terra. O Movimento dos Atingidos por Barragens também denuncia o aumento do número de casos de violência nos locais onde há a construção de hidrelétricas, pelo inchaço populacional. 

Veja: 10 motivos para lutar contra o alto preço da energia elétrica 

Sobre a data

O dia 8 de março é reconhecido apenas em 1977 pela União das Nações Unidas – ONU, marcando as conquistas e lutas sociais, econômicas e políticas das mulheres. Mas, antes do reconhecimento da data, diversos movimentos e articulações ocorreram e construíram a memória histórico-social para a legitimação da importância da luta feminista.

Comumente, se atribui o 8 de março ao incêndio ocorrido numa fábrica têxtil, no início do século XX, resultando em 129 mulheres mortas. As operárias reivindicavam por condições dignas de trabalho, redução da jornada, equiparação salarial e por direitos políticos e ao voto.

Mais de um século de opressões e discriminação, e os movimentos de mulheres por direitos e reconhecimento ainda é silenciado e estigmatizado. Entre brechas de uma sociedade dada como politizada, a voz da mulher ainda soa esguia, quase muda. E o feminismo carece veemente pela afirmação de que 8 de março não é por flores.

O Paraná é o 3° estado no número de assassinatos de mulheres, no Brasil. Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, é a segunda cidade com mais mortes de mulheres no país.

Se a mulherada se unir, a tarifa vai cair!

Programação

8 de março de 2016

16h30  – Marcha das Mulheres
Concentração: Copel
R. Coronel Dulcídio, 800 – Batel
Destino: Boca Maldita – Centro

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

2 + 3 =